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Luta “Ingloria”! Um episódio do ano de 1926.

A reportagem com o título de Luta Ingloria! foi publicada pelo jornal O Globo, em “11 de Março de 1926, Matutina, Geral, página 4”.

Foram destacados àquela época, os seguintes subtítulos:

Formidável conflito, no Mangue, entre soldados do Exército e da Polícia
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Um morto e vários feridos — Tres ruas transformadas em campo de batalha!

Eis o conteúdo da reportagem:

Contrista muito saber-se que o Exercito novo, o Exercito disciplinado, comta em seu seio soldados da tempera desses que hontem puzeram em sobressalto todo um bairro réles.
E’ pungente mesmo, para os que têm obrigação de informar o público, escrever uma notícia dessas para o mundo, dizer que os nossos soldados, os defensores do Brasil, exterminaram-se nas ruas do meretrício, utilizando-se das próprias armas que a pátria lhes confiou para que mantenham a sua integridade. Esses conflitos armados se repetem constantemente e, em consequência, cada vez maior se torna a descentralização da nossa força, que converge assim para a dispersão. E’ fácil imaginar-se a luta que se passa no espirito dos soldados das diferentes instituições em face do choque formidável dessas correntes antagônicas que procuram aniquilar-se estrondosamente como se não fossem filiadas a um só ideal: o de defender a pátria. Por força dessas circumstancias, os tres factores do nosso poder armado: Exercito, Policia e Marinha, vivem em constantes atritos, derramando nas ruas escusas da cidade o sangue que devia jorrar, num lance de santo sacrifício, pelos campos de batalha. E esse ideal sonhado pelos grandes espíritos militares — a coesão e disciplina — morre à porta dos baixos lupanares, num turbilhão de ódio e sangue!
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A noite de hontem foi assignalada por um desses acontecimentos ruidosos, um verdadeiro combate em plena via publica. De súbito, irrompeu enorme tiroteio na rua Affonso Cavalcanti, entre Pinto de Azevedo e Pereira Franco, onde áquela hora, era grande o movimento, esse desfile de todos os dias, em que predomina a farda.
Os estampidos, numa sequencia alarmante, ecoavam no espaço, num ruído ensurdecedor. Em pouco, entrincheirando-se nas sarjetas e nos postes, foram surgindo novos atiradores. Um grande arsenal despejavam, então, projectis a esmo. Ouvia-se, até, o ronco impressionante do fuzil e do mosquetão ! E em meio da rua, num aglomerado sinistro, disputava-se corpo a corpo, sabre contra sabre! As mulheres que, até agora, sorriam para os que passavam, bateram as janellas de suas habitações e fugiram para o interior. Aquellas casas, portas e janellas trancadas, algumas ás escuras, pareciam mergulhadas num somno profundo, indiferentes ao barulho infernal da rua. Já havia combatentes estirados nos passeios e ouviam-se gemidos impressionantes. A cavallaria passava, no estrepito da carga.
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Assim que teve sciencia do que se passava naquelas ruas, o commissario Barbosa, em serviço na delegacia do 9° districto, communicou-se com o 3° delegado auxiliar, requisitando socorros urgentes. Foram enviadas, então, em auto-caminhões, forças embaladas da Policia Militar, que fez seguir, também, para o local numerosa força de cavalaria.
O ataque aos turbulentos foi feito, então, de acordo com os 3° e 4° delegados auxiliares e Dr. Cobra Olyntho, delegado do 9° districto, auxiliados pelo commissario Ribeiro Osorio. Emquanto se providenciava para a remoção dos feridos e de um soldado já morto, eram colocadas patrulhas nas embocaduras das ruas, sendo, assim, effectuadas varias prisões. Estava, pois, o Mangue transformado em verdadeira praça de guerra.
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Serenados, afinal os ânimos, poderam ser identificados o morto e alguns feridos, tendo outros fugido á acção das autoridades.
O soldado que pereceu tão tragicamente era o cabo Feliciano Barbosa da Paixão, do 4° esquadrão de cavalaria da Policia Militar. Esse infortunado militar era sobrinho do coronel Paixão, daquela corporação e nada tina com o conflicto, pois não estava de serviço e por ali passava simplesmente rumo da sua casa. Bom soldado, rapaz de família distincta, Feliciano era muito estimado entre os seus colegas, razão porque todos sentiram profundamente a sua morte.
O cadáver do pobre militar foi removido para o necroteio, de onde sairá o seu enterro, hoje.
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Apesar de serem inúmeros os feridos em consequência do formidável conflito, a policia do 9° districto só recebeu da Assistencia os nomes dos seguintes:
Francisco Gomes Sobrinho, brasileiro, pardo, praça da 1ª companhia de estabelecimento do Exercito, ferido na mão e na cabeça; Felippe Pereira de Souza, soldado n. 1.213, da 6ª companhia do 2° batalhão do 3º regimento de infantaria, ferido na região superciliar esquerda, tendo também escoriações pelo corpo; Albertino Alves dos Santos, preto, de 26 annos, solteiro, soldado n. 21 da 1ª companhia de Administração e José Francisco Maria, preto, de 26 annos, solteiro, soldado da 1ª companhia de estabelecimento, ferido na região fronto-occipital e com escoriações pelo corpo e João Gomes da Silva, n. 22 da 1ª companhia do regimento de Fuzileiros Navaes.
A policia do 9° districto, no inquérito desde hontem aberto, apurou que a causa do conflito foi terem alguns soldados do Exercito, embriagados, disparado vários tiros a esmo, na rua Affonso Cavalcanti, matando o Cabo Feliciano. Vendo o seu colega morto, algumas praças da Policia entraram em luta com os atiradores, estabelecendo-se dahi a impressionante peleja.
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Depois de medicados pela Assistencia, os militares feridos foram internados no hospital das suas respectivas corporações, onde se acham presos. Os que a policia deteve foram remetidos, também para as unidas a que pertencem.

Fonte: Acervo de O Globo.
Foto: Panoramario.

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